quinta-feira, 7 de junho de 2018

Aborto, legalização ou clandestinidade?

Precisamos falar sobre um enorme tabu no Brasil hoje, o aborto. Apesar de diversos países já terem legalizado, o Brasil e muitas outras nações ainda possuem leis que são ultrapassadas e que tiram o direito da mulher de decidir sobre o seu corpo. Estatísticas mostram que mesmo proibido o aborto continua acontecendo, de forma clandestina e precária, o que contribui para a morte de milhares de mulheres que são suprimidas pela legislação conservadora.

O aborto pode se caracterizar tanto como espontâneo, quando acontece de forma inesperada e involuntária, ou pode ser induzido, quando a mulher decide interromper a gravidez, seja por motivos pessoais, de saúde, sociais ou familiares. O problema é que o aborto induzido pode acontecer de duas formas, seguro ou clandestino. O aborto seguro é praticado em países onde ele é legalizado, com toda a assistência profissional, sendo médica, psicológica e social, já o aborto não seguro acontece em países como o Brasil, em clínicas clandestinas, sem segurança, precárias e sem o mínimo de seguridade.

A legislação sobre o aborto no Brasil é antiga, de 1940, e hoje, 78 anos depois, ainda se faz presente na vida das mulheres brasileiras. O aborto é permitido apenas no caso de mulheres que foram estupradas, apresentam risco à sua saúde ou se o feto apresenta anencefalia, criminalizando todo e qualquer outro motivo que seja usado para realizar o procedimento. O grande contraponto é que as mulheres continuarão abortando, seja ele legalizado ou não. Estima-se que em 2014 1600 mulheres abortaram legalmente, entretanto, 200 mil foram parar no hospital em decorrência de procedimentos clandestinos, e calcula-se que sejam realizados cerca de 1 milhão de abortos por ano no país.

                                                                                         Fonte: IBGE


Fiz uma pequena pesquisa na caixa de texto do Google e constatei que mesmo proibido, abortos continuam acontecendo e sem assistência de qualidade.




As mulheres mais atingidas pela criminalização do aborto são as mulheres pobres e de periferia, que não possuem acesso à assistência, nem recurso financeiro ou sequer campanhas de prevenção à gravidez e saúde da mulher. Já as que são de classe média e alta realizam abortos clandestinos seguros e muitas vezes o fazem até no exterior para reduzir os riscos de complicações, deixando muito claro que a legislação do aborto no Brasil afeta muito mais a mulher pobre, negra e de periferia que está às margens da sociedade. Cerca de quatro mulheres morrem por dia no país devido a complicações decorrentes de procedimentos inseguros, a maioria de classe baixa.

Nem sempre as mulheres que querem abortar fizeram sexo sem preservativo ou não se cuidaram para evitar uma gravidez indesejada, mais de 50% das mulheres que abortam estavam usando métodos contraceptivos, o que nos leva a observar que nem sempre eles irão prevenir uma gestação, podendo acontecer uma gravidez indesejada que leve a mulher a querer abortar. Outro dado mostra que 70% das mulheres que querem abortar estão em uma relação estável, ou seja, mesmo estando relacionadas muitas companheiras optam por não querer a gravidez.

Como funciona o aborto legalizado?
As mulheres que possuem liberdade para abortar em qualquer circunstância fazem isso até a 12° semana de gestação, uma data consenso que considera-se não haver risco para realizar o procedimento, evitando até meios cirúrgicos. Mas as mulheres não chegam no Canadá, Uruguai, Austrália, Noruega querendo abortar e abortam, nada disso, primeiramente há um acompanhamento que geralmente dura cinco dias que envolve uma equipe de médicos, psicólogos e assistentes sociais que analisam os motivos que a levaram a querer fazer isso, e em até 20% dos casos as mulheres desistem de realizar o procedimento, o que estatisticamente ocasiona que em países onde o aborto é legalizado a taxa é menor que em países onde ele é proibido.



Por que existe um tabu tão forte no Brasil?
A maioria das decisões referentes ao aborto no Brasil são tomadas por homens que não possuem sequer um conhecimento sobre o corpo da mulher e que usam e sua popularidade para propagar tais ideias, além disso, as religiões exercem um papel muito forte dentro dessa discussão fazendo com que o debate fique muito mais travado e sem avanços progressistas com o embate religioso. Segundo o IBGE 80% da população do país é contra o aborto, o que dificulta um debate nacional amplo uma vez que a população ainda está atrelada a uma linha tão conservadora.


Fontes:

http://www.politize.com.br/aborto-entenda-essa-questao/
https://brasil.elpais.com/brasil/2014/09/08/politica/1410187306_545732.html
https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/a-questao-do-aborto/
https://www.youtube.com/watch?v=CfvkWHHC9jQ

Imagem 1: https://www.google.com.br/search?q=aborto&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjrppuN2sLbAhUMHJAKHXBaBtYQ_AUICygC&biw=1440&bih=794#imgrc=poI12vKsgCLg1M:

Imagem 2: https://www.google.com.br/search?biw=1440&bih=745&tbm=isch&sa=1&ei=i8MZW_3bLcXCwASjiLfoAg&q=pa%C3%ADses+onde+o+aborto+%C3%A9+legalizado&oq=pa%C3%ADses+onde+o+aborto+%C3%A9+legalizado&gs_l=img.3...118679.124859.0.125120.34.29.0.0.0.0.311.4193.0j9j10j1.20.0....0...1c.1.64.img..14.9.1843.0..0j35i39k1j0i67k1j0i30k1j0i24k1j0i8i30k1.0.ntBxrzMmE4s#imgrc=K_UqYzuEpI2fnM:

Imagem 3: https://www.google.com.br/search?q=aborto+legaliza&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwi7xb6a4sLbAhVBIJAKHcGRBVMQ_AUICygC&biw=1440&bih=794#imgrc=rUsPho0e1BD6wM:

Um comentário:

  1. Uma vez defendi o aborto e alguém me disse que isso era um sinônimo de burrice e que eu apoiava um crime. Em que parte estar do lado das mulheres quando elas se mostram ou poderiam se mostrar proprietárias do seu próprio corpo é burrice? A legislação em relação ao aborto pretende evitar que corram riscos decorrentes de uma má decisão, mas as questões de segurança poderiam ser muito bem avaliadas por elas com a ajuda de políticas públicas bem planejadas que visem a informação a respeito do assunto. Um papel escrito jamais deveria ser dono da liberdade física feminina.

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